Psicanálise

Textos Psicologia. 



"A morte do ego...é um convite para perder a vida de maneira a preservá-la. O ego está no timão do navio; precisa sair do centro para dar lugar ao Self, que é a união de ambos: o consciente e o inconsciente...Há um chamado para trocar a própria identidade,por uma mais ampla e verdadeira.Há um chamado para submeter o ego ao Self que,de algum modo,irá incorporar a Sombra"  
(Brennan e Brewi)



“A individuação não significa apenas que o homem se torna verdadeiramente humano e distinto do animal, mas também que se torna parcialmente divino. Na prática, isso significa que ele se torna adulto, responsável por sua existência, sabendo que não apenas o homem depende de Deus, mas Deus também depende do homem” (Jung).
jungpsicologiatranspessoal



 Jung propõe quatro etapas para o processo terapêutico: a confissão, o esclarecimento, a educação e a transformação.
"Na 'catarse' (confissão) , que faz despejar tudo até o fundo, somos levados a crer: pronto, agora tudo veio à tona, tudo saiu, tudo ficou conhecido, todo medo foi vivido, toda lágrima derramada, daqui para frente tudo vai correr às mil maravilhas. Na fase do 'esclarecimento', diz-se com a mesma convicção: agora sabemos o que provocou a neurose, as reminiscências mais remotas foram desenterradas, as últimas raízes extirpadas, e a transferência nada mais era do que uma fantasia para satisfazer um desejo paradisíaco infantil, ou uma retomada do romance familiar; o caminho para uma vida sem ilusões está desimpedido, aberta a via da normalidade. A 'educação' vem por fim, e mostra que uma árvore que cresceu torta não endireita com uma confissão, nem com o esclarecimento, mas que ela só pode ser aprumada pela arte e técnica de um jardineiro. Só agora é que se consegue a adaptação normal." (Jung - a prática da psicoterapia - pg.82).
(by) Jung Psicologia Transpessoal



"Sentimento morto, amordaçado, volta a incomodar" (Fagner)...E, como volta a incomodar...Sentimento, emoção, reprimida, 'jogada' ou empurrada para o porão psíquico, no inconsciente, mais dia, menos dia, "volta a incomodar". Pode aparecer, através de distúrbios psicossomáticos, neuroses, atos e lapsos de linguagem e comportamento, etc. O inconsciente não aceita 'ser esquecido', nossa natureza interior não aceita ser enganada, em detrimento do ego e suas máscaras, fantasias. Nossos complexos destrutivos não se contentam em atrapalhar nossas vidas, eles chegam, mesmo, a destrui-las. Simplesmente esquecer alguma mágoa, alguma questão mal resolvida, não é o melhor caminho. Melhor a confrontação com o sentimento e a emoção, manifestando a emoção reprimida, de uma forma não destrutiva, entender a finalidade do acontecido, o significado, e dar-lhe um outro entendimento. Aí, sim, 'virar a página'.
jung psicologia transpessoal 


Para o indivíduo, uma combinação das quatro funções resulta numa abordagem equilibrada do mundo.
Jung escreve: “A fim de nos orientarmos, temos que ter uma função que nos assegure de que algo está aqui (sensação); uma segunda função que estabeleça o que é (pensamento); uma terceira função que declare se isto nos é ou não apropriado, se queremos aceitá-lo ou não (sentimento); e uma quarta função que indique de onde isto veio e para onde vai (intuição)”.



 "Desisto de chegar a um julgamento definitivo, pois o fenômeno vida e o fenômeno homem são demasiadamente grandes. À medida em que envelhecia, menos me compreendia e me reconhecia, e menos sabia sobre mim mesmo."

Carl Gustav Jung




Dedico esta página a todos meus alunos de nível avançado e interessados, para que possam tirar suas dúvidas e obterem novas percepções de acordo com a visão analítica de pessoas que contribuem para o desenvolvimento do pensamento, idéias e arranjos da psicologia no geral.Se encontrar algum arquivo que seja de sua autoria neste post, peço lhe que me comunique para que eu possa  dar os devidos Créditos.

-Silas Gambary- 

''Saiba que os verdadeiros motivos tentaram ficar encobertos.''

(Página em manutenção)


(Entendendo Id, Ego e Superego)


ID (instintos, impulsos que move a ação enérgica)
Formado por instintos, impulsos orgânicos e desejos inconscientes e regido pelo princípio do prazer, que exige satisfação imediata. É a energia dos instintos e dos desejos em busca da realização desse princípio do prazer. O Idé a estrutura da personalidade original, básica e central do ser humano, exposta tanto às exigências somáticas do corpo às exigências do ego e do superego.

Ego (o eu que controla e decide, ajuda no equilíbrio entre o Id e o Superego)
É é a soma total dos pensamentos, idéias, sentimentos, lembranças e percepções sensoriais. Tornada consciente, tem por funções a comprovação da realidade e a aceitação, mediante seleção e controle. Obedece ao princípio da realidade, ou seja, à necessidade de encontrar objetos que possam satisfazer ao id sem transgredir as exigências dosuperego. Quando o ego se submete ao id, torna-se imoral e destrutivo; ao se submeter ao superego, enlouquece de desespero, pois viverá numa insatisfação insuportável.

Superego (conciência de juízo, depósito das leis)
Manifesta-se à consciência indiretamente, sob forma da moral, como um conjunto de interdições e deveres, e por meio da educação, pela produção do "eu ideal", isto é, da pessoa moral, boa e virtuosa. É o nosso "depósito" de códigos morais, de condutas e construtos que constituem as inibições da personalidade.



 
* Quando um mecanismo, atua em extremo sobre os demais gera transtornos de personalidade, que são as doenças psíquicas. 

By: Neuroconexões. 

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( O aparelho psíquico )
 
 As três divisões do sistema:

°Ego (Consciência) Cs

°Superego (moral) Cs

°Id (inconsciente) Ics

Exemplos                        
                                                                                                                                            
 








Pré-consciente (Psicanálise)
Resumo do Artigo por:WeldonParish
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Palavras:600

O pré-consciente é uma região do consciente um pouco mais profunda, logo abaixo deste, situado numa zona não tão clara, de penumbra, exercendo a função de um grande arquivo morto de tudo que está consolidado, mas sem uma função objetiva no consciente. Idéias, nomes, fatos que não são utilizados no dia-a-dia ficam aí retidos, podendo ser resgatados sempre que o consciente necessitar do seu concurso. O pré-consciente faz fronteira com o inconsciente e recebe deste, conteúdos psíquicos que desejam vir à luz do consciente, como lembranças e experiências ligadas a fortes emoções, que não podendo ficar numa área clara conhecida pelo ego devem ser arquivadas na profunda escuridão do inconsciente.
Os conteúdos – traços mnésicos (memórias) e operações (ligações mnésicas) que estão presentes no campo pré-consciente não estão presentes no campo atual da consciência, ou seja, o ego neste instante não está lembrando-se deles, mas distingue-se dos conteúdos e operações do sistema inconsciente na medida em que estão permanentemente à disposição do ego, ou seja, da sua consciência.


O sistema pré-consciente rege-se pelo processo secundário, ou seja, as energias que transitam por ele estão ligadas e subordinadas a ação da censura (superego), assim todos os impulsos provenientes do inconsciente que atingem o campo consciente e a consciência, ao passar por ele, sofrem transformações (censura). 

A passagem dos impulsos do pré-consciente ao consciente e a motilidade (movimento) sofre uma segunda censura (moral) distinta daquela que o superego exerce na passagem do inconsciente para o pré-consciente, que se faz em nível de deformação mais profunda. 

 Esta segunda censura deforma menos, selecionando mais o que convém do que não convém, sendo assim mais qualitativa, evitando que venha para a consciência desejos e preocupações perturbadoras. Assim, favorece o exercício da atenção.


Nas operações pré-conscientes há também o domínio do princípio do prazer e a influência constante do processo primário (do inconsciente).
O pré-consciente é uma região clara (consciente) e ao mesmo tempo escura (inconsciente), pois o que está lá arquivado pode ser acessado pelo ego, a qualquer momento, contudo neste instante de sua vida o seu ego não está lembrando (está inconsciente).

Exemplo: Lembre-se agora da sua primeira professora, da sua primeira escola, etc. 

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O IMAGINÁRIO E O SIMBÓLICO NA CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO 
Maria Melania Wagner Pokorski
1
Resumo 
Nosso artigo objetiva descrever alguns conceitos psicanalíticos implicados na constituição do 
sujeito. Pretendemos examinar o que corresponde ao registro imaginário e ao simbólico, ao 
narcisismo primário e secundário, ao estágio do espelho, bem como a importância da entrada 
do pai na relação triangular edípica, nomeado pela mãe, rompendo com a relação dual (mãebebê). Além disso, achamos imprescindível destacar  o significado do recalque para a 
constituição do sujeito e seus diferentes momentos, que Freud descreve como: originário, 
secundário e recalcamento propriamente dito. Por fim, pontuamos as repercussões de 
possíveis falhas na constituição do sujeito, quando ocorre uma psicose, onde “a castração 
rejeitada do simbólico reaparece no real”. 
Palavras-chave: Sujeito. Imaginário. Simbólico. Recalque e Real. 
Introdução 
 Nos referenciais da Psicanálise encontramos diferentes “estados transitórios”, que 
fazem parte da organização e da estrutura psíquica do sujeito: eu ideal e ideal do eu; psicose e 
neurose; narcisismo primário e secundário; posição esquizoparanóide e depressiva. Os estados 
transitórios estão vinculados à situações de: necessidade, pulsão, desejo, identificação, 
fantasia, clivagem, trauma, defesa, sonho, conflito edípico, castração, recalque, sublimação, 
foraclusão entre outros. 
 Nasio (2001) descreve casos de psicose com falhas na inscrição simbólica. Entre os 
casos cita Dick, uma menina de 4 anos de idade, que Melanie Klein, em janeiro de 1929, 
diagnostica de criança psicótica. Seu desenvolvimento intelectual situa-se entre 15-18 meses. 
Seu vocabulário é restrito e incorreto. Apresenta insensibilidade à dor ou ao toque. Dick não 
simboliza. Mostra-se paralisada e detida. O objetivo da análise é construir o processo de 
simbolização. A análise continuou até 1946, quando Dick passa a ser caracterizada como uma 
“tagarela”.  
 Outro caso descrito por Nasio (2001) é do jovem Dominique Bel. Com 14 anos de 
idade, manifesta uma fobia generalizada. Dolto, em 1964 dá o diagnóstico de esquizofrênico. 
Com 7 anos de idade apresentava atraso escolar, bem como enurese e encopresia, resultantes 
do nascimento da irmã que é três anos mais nova que ele. Dolto ocupa-se em reconstruir a 
história edipiana dos pais e o progressivo distanciamento de Dominique de um clima familiar 
incestuoso. 
 Nos atendimentos, no consultório, com frequência percebemos crianças com “falhas” 
no processo de simbolização. Pedro, por exemplo, com 7 anos de idade, 2
ª
 série do Ensino 
Fundamental, manifesta forte resistência a fazer o  “tema escolar” ou outras atividades que 
envolvam o registro gráfico. Queixa-se que a mão dói ou que o cansaço é grande. É filho do 
segundo casamento, sendo que os pais já têm outros filhos do primeiro casamento. Pedro não 
foi planejado. Pedro passa a maior parte do tempo com a mãe e quando o pai não está, dorme 
com a mãe. 
 O que pertence ao imaginário e o que é próprio do simbólico? Como isto se constitui 
ou se estrutura e o que está envolvido? Qual a relação do estágio do espelho e do recalque 
                                                          
1
 Mestre em Educação, Psicopedagoga, Psicanalista –  Membro Efetivo do Círculo Psicanalítico do RS, 
Professora da FAPA em cursos de Graduação e Pós-Graduação.2
com o imaginário e o simbólico? Quais as diferentes concepções sobre o imaginário e o 
simbólico dentro da Psicanálise? 
 A partir dos casos exemplificados e dos questionamentos feitos, nossa intenção não é 
de enquadrar os referenciais psicanalíticos, como na lenda de Procusto, que visava a 
‘normalização’, mas pretendemos examinar alguns conceitos e algumas concepções que 
envolvem especificamente o Imaginário e o Simbólico. Sabemos que para Lacan na 
reformulação estrutural, o lugar dominante na tópica até 1970 era o simbólico. A ordem das 
instâncias psíquicas era então o Simbólico, Imaginário e o Real (S.I.R). Em seguida, numa 
lógica diferente a ênfase ficou no Real (da psicose) em detrimento do Simbólico e do 
Imaginário (R.S.I.). O Real tornou-se o lugar da loucura, lugar da simbolização impossível. A 
seguir investigaremos o estudo do Imaginário e do Simbólico a partir de diferentes autores da 
Psicanálise. 
Características da Constituição do Sujeito 
 Segundo Kusnetzoff (1982) pertence ao registro imaginário a ilusão, o sempre igual, a 
imagem e a semelhança do outro. O registro simbólico compreende o diferente, a noção de 
cultura, o ordenamento social, a denúncia de que não se é semelhante e que estamos incluídos 
em leis universais que nos governam, como por exemplo: o desenvolvimento psicossexual e o 
complexo de Édipo. Assim, enquanto o registro imaginário corresponde ao narcisismo 
primário, o registro simbólico pertence ao narcisismo secundário. 
 O que é narcisismo? 
 Assim como o narcisismo tem sua história na ontogênese, também na Psicanálise tem 
seu período de evolução, marcado por diferentes concepções. 
 Roudinesco (1998) afirma que foi Alfred Binet, no final do século XIX, a utilizar pela 
primeira vez o termo narcisismo, considerando que a própria pessoa toma-se como objeto 
sexual. Na tradição grega o significado de narcisismo é o amor de um indivíduo por si 
mesmo. No mito – Narciso é de uma beleza ímpar que, ao ver sua imagem refletida na água, 
apaixona-se por esta imagem e mergulha os braços para abraçá-la. Até o século XIX o termo 
narcisismo era caracterizado como o amor da pessoa por si mesma.  
 Freud utilizou a primeira vez o termo narcisismo em 1905, nos “Três ensaios sobre a 
teoria da sexualidade”, onde fala dos ‘invertidos’  que “tomam a si mesmos como objetos 
sexuais, o semelhante será amado tal como sua mãe o amou”. Em 1910, no ensaio “Leonardo 
da Vinci e uma lembrança de sua infância” e, em 1911 no estudo do caso Schreber, Freud 
entende o narcisismo com um estágio da evolução da libido. Com o termo ‘libido’’ designa a 
energia sexual que parte do corpo e investe os objetos. Em 1914, apresenta uma “Sobre o 
narcisismo: uma introdução” e, com a descrição da segunda tópica, em 1920-3, “O Id e o 
Ego” Freud faz a distinção entre narcisismo primário e secundário. 
 Mas, como o narcisismo se organiza na evolução ou  na estruturação psíquica nos 
primeiros anos de vida? 
 No início as sensações são de prazer ou desprazer. O bebê engole o que é bom 
(introjeta) e cospe o que é mau (projeta). A introjeção e a projeção são então os mecanismos 
básicos. Aos poucos, o instinto que é biológico transforma-se em pulsão, que é da ordem 
psicológica. O biológico com sua necessidade requer um objeto concreto, o alimento. A partir 
do objeto adquirido, a criança possui uma representação da satisfação da necessidade. Sua 
demanda passa a ser a reaparição do objeto primeiro e fantasiado. Apoiada na necessidade 
deseja igualar a satisfação a uma ou a mais experiências  anteriores. Porém, como é um 3
desejo, está fadado a nunca ser alcançado. Porque no  desejo,  que implica o conceito de 
pulsão,  há uma modificação do objeto, requer leite e alguma coisa a mais, um plus na 
satisfação. 
 Para Garcia-Roza (2002, p. 144) na  necessidade “essa tensão é de ordem física, 
biológica, e encontra sua satisfação através de uma ação específica visando a um objeto 
específico. [...] enquanto o desejo não implica uma relação com um objeto real, mas com um 
fantasma. [...] O objeto do desejo é uma falta e não algo que proporcionará uma satisfação” 
(grifo nosso). O desejo é uma ideia ou um pensamento, que se dá pela representação e é com 
um objeto  fantasiado. O  desejo quer realizar-se, diferentemente da  pulsão  que busca a 
satisfação.  
 Freud, em 1905, descreve, nos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, um estado 
anterior ao narcisismo chamado de auto-erotismo. O  auto-erotismo é o estrato sexual mais 
primitivo, estado inicial da libido, o corpo é sentido ainda como fragmentado, pois não há 
ainda uma unidade, ou seja, um ‘eu’ constituído. Assim, o eu primeiro é corporal. GarciaRoza (2002, p, 99) diz que “Anteriormente à fase auto-erótica, na qual a pulsão perde seu 
objeto, há uma fase na qual a pulsão se satisfaz por ‘apoio’ na pulsão de autoconservação e 
essa satisfação se dá graças a um objeto: o seio materno”. 
 Enquanto que o objeto do instinto é o alimento, o objeto da pulsão é o seio materno, 
que é um objeto externo ao corpo do bebê. Quando este objeto externo é abandonado, GarciaRoza (2002, p. 100) acrescenta “tanto o objetivo quanto o objeto ganham autonomia com 
respeito à alimentação, que se constitui o protótipo da sexualidade oral para Freud: o chupar o 
dedo. Tem início, então, o auto-erotismo”. 
 O auto-erotismo, anterior ao narcisismo, marca um  estado original da sexualidade 
infantil, onde a pulsão sexual encontra satisfação parcial, sem buscar um objeto externo. O 
que a criança busca não é a satisfação de uma necessidade, mas um “prazer” experimentado 
anteriormente e que quer repetir e rememorar. Ao auto-erotismo acrescenta-se o “eu”, para 
dar forma ao narcisismo. Para Garcia-Roza (1995, p. 42) “O narcisismo é condição de 
formação do eu, chegando mesmo a se confundir com o próprio eu”. 
 O narcisismo primário mencionado por Freud é um estado que não pode ser observado 
diretamente, mas que podemos formular a partir de um raciocínio recorrente. O narcisismo 
equivale ao nascimento do “eu”. A transformação dos investimentos de objeto em
identificações contribui para a formação do ‘eu’. Segundo Nasio (1997, p. 55) “podemos 
considerar que o eu resulta de uma série de ‘traços’ do objeto que se inscrevem 
inconscientemente: o eu assume os traços do objeto. Podemos assim fazer uma representação 
do  eu como uma  cebola formada por diferentes camadas de  identificações com o outro” 
(grifo nosso). 
 Não podemos deixar de registrar que o narcisismo do bebê constrói-se a partir do 
narcisismo dos pais. Para Freud (1996, p. 98), “o amor dos pais, tão comovedor e no fundo 
tão infantil, nada mais é senão o narcisismo dos pais renascido, o qual, transformado em amor 
objetal, inequivocamente revela sua natureza anterior”.  
 Para Garcia-Roza (1995) as características do narcisismo primário são: o eu ideal, as 
idealizações, a onipotência, a imagem corporal, o imaginário e se alimenta da imagem dos 
pais. O narcisismo secundário compreende o ideal do eu, a identificação com o outro, a lei e o 
simbólico. Nasio (1997) chama a atenção para o elemento mais importante que vem perturbar 
o narcisismo primário, que é o ‘complexo de castração’. Aqui percebe-se a incompletude que 
deseja recuperar a perfeição narcísica. 4
 A criança aceita a ordem simbólica através da ordem imaginária, isto é, os seus 
desejos passam primeiro pelo outro especular, que podem ser aprovados ou reprovados, 
aceitos ou recusados. É através disso que a criança faz a aprendizagem da ordem simbólica e 
aceita o seu fundamento que é a lei. 
 O  ideal do eu  corresponde a um conjunto de traços simbólicos implicados pela 
linguagem, pelas leis e pela sociedade. O ideal do eu organiza-se por exigências externas à 
criança, por imperativos éticos transmitidos pelos  pais, exigências estas que procurará 
atender. Garcia-Roza (1995, p. 69) assinala para a  importância das exigências “Veiculadas 
pela linguagem, elas operam a mediação entre o  eu e o outro, necessária para que seja 
superada a relação imaginária. Desta forma, o simbólico passa a prevalecer sobre o 
imaginário, organizando-o. Essa é a  identificação narcísica secundária, identificação ao 
outro tomado como ideal do eu” (grifo nosso). 
 O simbólico traz a marca de uma relação sublimada. O imaginário é marcado pela 
idealização e pela relação dual. 
 Como vimos, o narcisismo organiza-se e estrutura-se do eu ideal/imaginário (primário) 
para o ideal do eu/simbólico (secundário), numa forma sequenciada. Porém o adulto oscila 
entre o narcisismo primário e secundário, assim como entre a posição esquizoparanóide e a 
posição depressiva, que é outro entendimento da organização estrutural psíquica, descrita por 
Melanie Klein.  
 Outra concepção sobre a constituição do ‘eu’ foi elaborada por Lacan (apud 
ROUDINESCO, 1998), que descreve o estágio do espelho, como um momento psíquico da 
evolução humana, que organiza-se entre o 6
º
 e o 18
o
 mês de vida. O bebê antecipa o domínio 
sobre sua unidade corporal, a partir da  identificação com a imagem do semelhante e da 
percepção, no espelho, de sua própria imagem. 
 Roudinesco (1998) descreve que Lacan baseou-se na “prova do espelho” utilizada por 
Henri Wallon. Com essa experiência o bebê, progressivamente distingue seu próprio corpo 
refletido no espelho. Porém, Lacan transformou a “prova do espelho” em “estágio do 
espelho”.  
 Garcia-Roza (2202, p. 212) ressalta que para Lacan essa experiência do espelho é 
fundamental para o bebê “identifica a matriz a partir da qual se formará um primeiro esboço 
do eu. [...] Essa fase é ainda dominada pelo imaginário e o que aí se produz é apenas um eu 
especular. O  sujeito será produzido somente quando da passagem do  imaginário ao 
simbólico, isto é, através da linguagem” (grifo nosso). 
 O estágio do espelho, não se refere, necessariamente, a uma experiência diante de um 
espelho concreto, mas assinala uma relação do bebê com seu semelhante que possibilita uma 
demarcação da  totalidade do seu corpo.  Esta relação que é em nível imaginário e é 
caracterizada como uma relação dual. 
 Para romper o tipo de relação dual, são necessários a linguagem, o ingresso na cultura 
e, principalmente, a entrada do terceiro nomeado pela mãe, ou seja, a entrada do pai em cena, 
que corresponde ao momento edípico. O Édipo demarca uma passagem do  imaginário ao 
simbólico.
 Esta passagem do imaginário ao simbólico, em termos antropológicos, corresponde à 
passagem da natureza ou da barbárie à cultura, que  é marcada pelo interdito e representa à 
regra, a norma, a lei. Enquanto que o natural é o universal e o igual para todos. 
 Para a Psicanálise, Garcia-Roza (2002, p. 175-6) destaca que “só há o inconsciente se 
houver o simbólico. [...] É o recalcamento que produz o inconsciente e isso só ocorre por 5
exigência do simbólico”. Acrescenta sobre a importância da linguagem “É a aquisição da 
linguagem que permite o acesso ao simbólico e a consequente clivagem da subjetividade. No 
entanto, a linguagem é um instrumento do consciente e não do inconsciente. Este é 
constituído sobretudo de representações imagéticas, ficando a linguagem restrita ao campo do 
pré-consciente/consciente”. 
 A partir da Psicanálise a subjetividade é uma realidade dividida ou clivada em dois 
sistemas: o inconsciente e o pré-consciente/consciente; com uma luta interna, onde a razão é 
apenas um efeito de superfície. 
 Mas o que é recalcamento ou recalque que produz o inconsciente?  
 O tema recalque é bastante abrangente e complexo, com diferentes pontos de vista em 
sua história conceitual, porém, em nosso artigo damos destaque a algumas concepções que 
possam contribuir para o entendimento do imaginário e do simbólico, ou seja, a constituição 
do sujeito. 
 Para Freud a teoria do recalque significa “o pilar sobre o qual repousa o edifício da 
psicanálise”. Roudinesco (1998, p. 647) diz que o recalque “designa o processo que visa a 
manter no inconsciente todas as ideias e representações ligadas às pulsões e cuja realização, 
produtora de prazer, afetaria o equilíbrio do funcionamento psicológico do indivíduo, 
transformando-se em fonte de desprazer. [...] o recalque é constitutivo do núcleo original do 
inconsciente”. 
 Nasio (1999, p. 31) faz um esquema dos quatro tempos do funcionamento psíquico 
onde o recalcamento está presente. “1. Movimento contínuo da energia em direção ao prazer 
absoluto. 2. Barra do recalcamento que se opõe à movimentação da energia. 3. Energia que 
não transpõe a barra do recalcamento e dá início a  uma nova excitação. 4. Energia que 
transpõe a barra do recalcamento e se exterioriza sob a forma do prazer parcial inerente às 
formações do inconsciente”. Nasio entende a lógica de Freud dos quatro tempos como: “o que 
empurra, o que detém, o que resta e o que passa”. 
 O recalque foi descrito por Freud como: o originário, o secundário e o recalque 
propriamente dito. 
 O recalque originário é constituído de “representações da pulsão”, que são imagens de 
objetos ou partes do objeto inscritos no sistema mnêmico, que correspondem ao “imaginário 
visual”, anterior a representação de palavras. Para Garcia-Roza (2002, p. 162) “aquém do 
simbólico, da linguagem, lugar privilegiado da psicanálise, situa-se o imaginário. Aquém do 
imaginário, situa-se o impensável: a pulsão. Os significantes elementares do inconsciente são 
esses representantes imagéticos da pulsão e não a pulsão propriamente dita. Esta fica remetida 
a um lugar mítico do qual só se pode falar por metáforas”. Assim, numa escala de evolução 
podemos entender que a natureza do recalque originário inicia-se no mítico, passa para o 
representante ideativo da pulsão, segue a pulsão, o imaginário e o simbólico, esse último 
requer a linguagem. 
 O recalque originário é o responsável pela  clivagem do psiquismo em instâncias 
diferenciadas: o sistema inconsciente e o pré-consciente/consciente. O recalque secundário é 
um processo que pressupõe a clivagem. A função do recalque é a de impedir que certas 
representações do inconsciente tenham acesso ao pré-consciente/consciente. 
 O objeto do recalcamento é o representante ideativo e não o afeto. Uma vez que o 
afeto não pode tornar-se inconsciente, isto é, não há afeto inconsciente e sim a ideia à qual o 
afeto está ligado. Garcia-Roza (2002, p. 164-5) mostra que “do ponto de vista econômico é 
muito mais importante o destino de afeto ligado a um representante ideativo no recalcado do 6
que o destino do representante propriamente dito. A razão disso está em que a parte 
quantitativa da pulsão só se exprime em afetos”Freud ilustra os destinos do representante 
ideativo e do afeto, através dos quadros clínicos:  a neurose de angústia, a histeria de 
conversão e a neurose obsessiva. 
 Quanto ao recalcamento há experiências inscritas no inconsciente cuja significação 
inexiste para a pessoa e que têm o seu acesso barrado à consciência. Para Garcia-Roza (2002, 
p. 159) “Essas inscrições se dão antes do ingresso  no simbólico e permanecem até que 
recebem significação a partir do momento em que o sujeito atinge a verbalização. É somente 
ao receber significação por parte do sistema simbólico que seu caráter traumático vai ser 
experienciado pelo sujeito e ocorrerá o recalcamento propriamente dito”. 
 Na constituição do sujeito podem ocorrer falhas, como no caso Scheber descrito por 
Freud em 1911, o que levou Lacan (apud NASIO, 1997) a elaborar um mecanismo que 
explicaria o fenômeno psicótico, a foraclusão. 
 O conceito de foraclusão é uma construção teórica que procura explicar o mecanismo 
psíquico na origem da psicose. Para Nasio (1997, p. 149) “Essas manifestações clínicas. [...] 
seriam todas ocasionadas por uma desordem na simbolização da experiência da castração. 
[...] foraclusão é o nome que a psicanálise dá à falta de inscrição, no inconsciente, da 
experiência normativa da castração, experiência crucial que, na medida que é simbolizada, 
permite à criança assumir seu próprio sexo e, desse modo, tornar-se capaz de reconhecer seus 
limites. [...] essa  falta de simbolização da castração se traduz, particularmente, por uma 
incerteza do paciente psicótico com respeito a sua  identidade sexual e por uma perda do 
sentido da realidade” (grifo nosso). 
 Para Freud a psicose é uma incapacidade do eu de se defender contra o perigo de uma 
representação psíquica intolerável. Nasio (1997, p. 151-2) menciona que a criança 
“compreendeu que seu pênis estava ameaçado, a partir da constatação da falta na mãe e a 
partir da internalização da proibição do pai; agora, a criança se decide a perder a mãe, objeto 
de seu desejo, para salvar seu próprio sexo. Essa crise que ela teve que atravessar certamente 
foi fecunda e estruturante, já que ela se tornou capaz de assumir sua falta e de produzir seu 
próprio limite, mas dessa experiência seu eu nada mais quer saber. O registro da experiência 
da castração no inconsciente é aquilo que Freud denomina de ‘representação intolerável’, e é 
contra essa representação que o eu se defende, por  vezes segundo um modo psicótico 
(foraclusão)”. 
 Para Lacan (apud NASIO 1997, p, 163) “A castração rejeitada do simbólico reaparece 
em outro lugar, no real. [...] É num acidente desse registro (simbólico) e do que ali se 
consuma, a saber, a foraclusão do Nome do Pai no lugar do Outro, e no fracasso da metáfora 
paterna, que designamos a falha que dá à psicose sua condição essencial”. 
Considerações finais 
 Tudo indica que percorremos um longo caminho, com  alguns obstáculos e algumas 
dúvidas, para elucidar um pouco o que caracteriza os estados transitórios do imaginário e do 
simbólico e que aspectos estão neles contidos. 
 Elaboramos uma reflexão sobre o que é necessário para o ‘eu’ se constituir e chegar a 
ser um ‘sujeito’, uma vez que o ‘eu’ só se torna ‘sujeito’ na passagem do imaginário ao 
simbólico, através da linguagem. A importância do ambiente, das funções materna e paterna, 
da família é básica, para que a criança possa evoluir em seu desenvolvimento e na sua 
estruturação psíquica. 7
 Os três casos mencionados na introdução apresentam ‘falhas’ quanto à simbolização. 
Segundo Bion (apud ZIMERMAN, 1995, p. 114), “a capacidade de formar símbolos depende, 
portanto, da capacidade do eu em suportar perdas e substituí-las por símbolos. A capacidade 
em suportar perdas, por sua vez, depende do fato de ter havido a passagem da posição 
esquizoparanóide para a posição depressiva”. O que em nosso texto corresponde à passagem 
do imaginário ao simbólico. 
 Mas, quais as perdas que a criança não tolera ou não suporta? 
 Perdas são coisas suas das quais não quer abrir mão, situações, objetos ou proibições, 
que geram ansiedades. Enfim, como diz Dolto (apud NASIO, 2001) a castração 
simboligênica., que corresponde a alguma proibição  em cada fase erógena do 
desenvolvimento. Aos pais cabe dar a castração. Na fase oral a castração é o desmame, a 
perda do corpo-a-corpo e a introdução da palavra. Na fase anal a castração implica em um 
domínio muscular (controle esfincteriano) e a introdução de regras. Na fase fálica a castração 
refere-se à aceitação da proibição do incesto. 
 Com a aceitação da proibição do incesto, a fantasia edípica e a investigação sexual 
caem sob o domínio do recalque. Porém, uma parte ‘sublima-se’ em pulsão de saber e a 
criança entra no mundo da cultura. 
 Quando esse processo continua com falhas, ou seja, quando não há a passagem do 
imaginário ao simbólico, temos as características da psicose, que Freud (apud NASIO 1997, 
p. 150) denomina de “defesa inadequada e mórbida contra o perigo da lembrança da 
castração”. 
REFERÊNCIAS
FREUD, S. Sobre o narcisismo: uma introdução. Rio de Janeiro: Imago, 1996. 
GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. 
_____. Introdução à metapsicologia freudiana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995, v. 3. 
KUSNETZOFF, Juan. Introdução à psicopatologia psicanalítica. Nova Fronteira, 1982. 
McDOUGALLL, Joyce. O divã de procusto. Porto Alegre: Artmed, 1991. 
NASIO, J.D. O prazer de ler Freud. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. 
_____. Lições sobre os sete conceitos cruciais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 
1997. 
_____. Os grandes casos de psicose. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. 
ROUDINESCO E. & PLON. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. 
ZIMERMAN, David. Bion da teoria à prática. Porto Alegre: Artmed, 1995.



Análise RSI


RESUMO
A teoria do final de análise é trabalhada através da noção de estrutura. A estrutura da linguagem e as estruturas clínicas nos indicam o que pode-se esperar de um final de análise.
Palavras-chave: Final de análise, Plasticidade da estrutura psíquica.

ABSTRACT
The theory about the end of analysis is discussed through the notion of structure. The structure of language and the clinical structures are indications of what can be expected at the end of analysis.
Keywords:The end of analysis, The plasticity of the psychic structure.



I – O final de análise
Este tema, de início, nos confronta com a queda de ideais, uma vez que não é possível dizer que haja um final ideal de uma análise.
Na sua articulação com a entrada em análiAse, o percurso terapêutico vai de  a S(); S() sendo lido aqui como escrita, obra pela qual o sujeito inclui a falta estrutural na sua vida.
Para trabalhar este percurso vamos tomar como base dois textos: "Análise Terminável e Não-Terminável", de Freud de 1937, e L’Étourdit (‘o atordoado às voltas com o dito’ poderia ser uma tradução, entre outras), texto de Lacan, contemporâneo do Seminário Ou pior..., dos anos 1972 e 1973.
Em "Análise Terminável e Não-Terminável", Freud considera que os resultados das análises podem variar em função de três fatores (RSI): 1. a etiologia traumática, 2. a força relativa das pulsões e 3. as alterações do eu. Esses três fatores fazem com que os resultados alcançados numa análise sejam geralmente mais ou menos incompletos uma vez que sempre haverá restos, fenômenos residuais no dizer de Freud, Restercheinung (fenômenos de resto) (na ESB, fenômenos residuais ou pendências parciais).
Daí se deduz que o final de análise não é sem sintoma. A capacidade de desenvolver sintomas permanece. Se o sintoma neurótico se encontra no início da análise (), já no seu final poderá haver a escrita de um synthoma como signo de um trabalho com os restos: S().
Por outro lado, Freud nos chama a atenção para o fato de que em todas as fases da cura do paciente, temos de lutar contra sua INÉRCIA [gozo], que está pronta a se contentar com uma solução incompleta (FREUD, 1969, p.264). Assim os fenômenos de resto não podem ser compreendidos como "desesperança", ou "descrença" na capacidade da psicanálise de aliviar o sofrimento ou buscar uma satisfação pulsional real. Ao lutarmos contra a inércia libidinal, ou em termos lacanianos, contra o gozo, torna-se possível para o analisando uma mudança de posição subjetiva na regulação da dor e do prazer.
Embora haja mudança de posição subjetiva, o synthoma de final de análise surge do fato de não haver saber completo e, portanto, não haver regulação ou controle completo sobre o gozo.
Gozo e saber são disjuntos; são campos heterogêneos dos quais só alcançamos o litoral entre eles. Assim podemos compreender a diferença assinalada por Freud em seu texto entre análise incompleta e análise inacabada, como também a impossibilidade de um fim ideal para o tratamento analítico.
Já em L’Étourdit também são três (RSI) os saberes que um analisando deve possuir ao final de uma análise. Saber sobre o sexo, sobre o sentido e sobre a significação. São três dimensões do impossível.
1. Sobre o sexo: não há relação sexual.
2. Sobre o sentido: Diz Lacan: não é sério, é cômico.
Isso quer dizer que não é da lógica significante; não é pela série, isto é, pela associação livre, pelas ressignificações da história de vida do analisando. Não é esta a direção ou o sentido da interpretação do analista. É cômico: é pelo tropeço, pelo uso da equivocidade da língua que a interpretação opera para apontar o objeto a no fantasma, para chegar aos modos de gozo do analisando.
3. Sobre a significação. Toda significação provém do fantasma.
L’Étourdit é um texto eminentemente clínico que trata da interpretação, da posição do analista, do final de análise, onde Lacan indica que para além das ficções o analista busca a fixão, ou ainda, as fixações libidinais, o gozo. Para isso é necessária a perlaboração (Durcharbeitung) (trabalho de atravessamento), isto é, o trabalho de construção e de travessia do fantasma para chegar à presentificação da realidade do inconsciente que é a pulsão (LACAN, 1989, p.258).
A construçãoe travessia do fantasma masoquista fundamental são exemplificadas muito claramente no texto freudiano "Bate-se uma criança" (KRUEL, 1999). O que é construído em análise é a implicação subjetiva do analisando com seus modos de gozo. É daí que o objeto a, que dava consistência à frase fantasmática, pode cair. O objeto cai e há um luto do objeto. O luto do objeto que dava consistência à frase fantasmática, i(a), permite que o objeto condensador de gozo se torne então causa de desejo.
A construção e travessia do fantasma fundamental masoquista é mostrada por Lacan pelo corte em oito interior no cross-cap. O uso de objetos topológicos tem a vantagem de demonstrar que o senso comum nem sempre é suficiente para lidar com as questões psíquicas. O cross-cap sendo equivalente à formula do fantasma,  ◊ a, o corte em oito interior são os atos analíticos que resultam numa separação de sujeito e objeto, ou em termos topológicos, em uma banda de Moebius e em uma esfera.
Lacan pergunta no Seminário 11: "Como um sujeito que atravessou a fantasia radical pode viver a pulsão?" (LACAN, 1988, p.258). O matema da pulsão é  ◊ D: o sujeito se divide diante da demanda do Outro. Ele se divide entre desejo e gozo. Nem um nem outro são completos.
A realização do desejo sendo sempre fantasmática fica destinada a ser decepcio-nada.
A satisfação da pulsão sendo parcial exige a renúncia ao fantasma de gozo total idealizado.
"Devo fazer o que me pedem?", se pergunta o sujeito. "Fazer o que eu imagino que o Outro quer de mim" pode ser característico da posição de objeto, onde a compulsão e o agir sem pensar predominam.
Ou, devo seguir meu desejo, mesmo sabendo que o desejo do sujeito é, em sua origem, o desejo do Outro. Esta é já uma posição de sujeito desejante, que barra a compulsão levando o sujeito a refletir sobre sua ação.
Se o inconsciente é o discurso do Outro, o desejo é a condição absoluta para barrar essa compulsão de obedecer hipnoticamente o Outro e atender a sua demanda sem pensar.
Esse sujeito que se interroga sobre o que ele quer é a raiz de uma experiência que pode ser chamada de "experiência moral", diz Lacan no Seminário da Ética, lição de 18/novembro/59.
Ein neuen Subjekt é o sujeito da pulsão que surge então quando esta completa seu trajeto no campo do Outro após cumprir o destino de ‘retorno sobre si mesmo’ no tempo de verbo reflexivo.
A análise portanto se conclui com a assunção de um conflito estrutural em torno da castração simbólica, cabendo ao sujeito a realização de ‘escolhas forçadas’ entre as posições de objeto de compulsões e de sujeito desejante. Essa é a experiência moral promovida pela psicanálise. A ética da psicanálise não indica ao analisando que escolhas deve fazer, mas deixa à sua disposição o conflito estrutural entre desejo e gozo, de forma que o sujeito não fique fixado numa única posição.


II- A análise do analista
O psicanalista deveria ser aquele que levaria a sua psicanálise pessoal até o final? Com Freud e Lacan acreditamos que sim.
No capítulo 7 de "Análise Terminável e Não-Terminável", Freud fala sobre a análise do analista: "Entre os fatores que influenciam as perspectivas do tratamento analítico e se somam às suas dificuldades da mesma maneira que as resistências, deve-se levar em conta não apenas a natureza do eu do paciente, mas também a individualidade do analista. Não se pode discutir que analistas, em suas próprias personalidades, não estiveram invariavelmente à altura do padrão de normalidade psíquica para o qual deseja educar seus pacientes". (...) "as condições especiais do trabalho analítico fazem realmente com que os próprios defeitos do analista interfiram em sua efetivação de uma avaliação correta do estado de coisas em seu paciente e em sua reação a elas de maneira útil. É, portanto, razoável esperar de um analista, como parte de suas qualificações, um grau considerável de normalidade e correção mental" (FREUD, 1969, p.281-282).
Como que o analista irá conseguir essa qualificação? Freud nos diz: "A relação analítica está fundamentada no amor à verdade, isto é, no reconhecimento da realidade e exclui toda aparência e ilusão" (PORTUGAL).
A questão levantada por Freud sobre realidade e ilusão parece ser central quanto à travessia do fantasma se considerarmos a estrutura perversa. O apego do perverso a sua fantasia de mãe fálica é tão grande que muitas vezes sacrifica o amor à verdade. O reconhecimento da realidade exige muitas vezes um abrir mão de nossos pensamentos, valores, crenças, para ter uma noção do que poderia ser algo diferente disso.
Embora o acesso ao Real seja sempre através de fantasmas, o trabalho de travessia é para que não se fique apegado demais às próprias fantasias. "Detenhamo-nos aqui por um momento para garantir ao analista, que ele conta com nossa sincera simpatia nas exigências muito rigorosas a que tem de atender no desempenho de suas atividades" (FREUD, 1969, p.282).
O termo alteração do eu é novamente usado aqui por Freud: então, essa alteração do eu, e se isso de fato acontece, "na medida em que acontece, qualifica o indivíduo analisado para ser ele próprio analista". O termo alteração do eu, em alemão Veränderung, contém o termo ander que significa outro, de forma que podemos entender esse termo como a modificação do sujeito pelo contato com o Outro. Strachey em sua Nota do Editor chama a atenção para o fato de que a ‘alteração terapêutica do eu’ poderia anular alterações precedentes resultantes de um processo defensivo. Ein neuen Subjekt, o sujeito da pulsão antes acéfala, só surge ao completar seu percurso no Outro, podendo se tornar então em algum grau responsável pelo seu gozo. No campo do gozo é novo ver aí surgir um sujeito.
As dimensões de realidade e ilusão colocadas por Freud levantam pois a questão ética de nossas escolhas inconscientes. Lembremos que Freud acha que devemos nos responsabilizar até pelos nossos sonhos noturnos (FREUD, 1969, p.163-167).

III- A plasticidade da estrutura
Se você estiver andando por um deserto e encontrar um símbolo gravado numa pedra, mesmo que não saiba o que aquele símbolo quer dizer, você saberá que por ali passou um ser humano. A escrita, mesmo que não seja lida, é eminentemente a marca do humano, do ser falante, de um se fazer sujeito a partir da estrutura da linguagem. "Estive aqui"é um dizer comum que, por algum motivo, as pessoas insistem em escrever em árvores e paredes.
A escrita de final de análise S() é também dessa natureza. O analisando poderia pensar: Estive aqui, "atravessei pontos de falta no Outro e isso teve conseqüências para mim", ou ainda ‘Estive aqui’ passei por uma psicanálise onde "tudo mudou" para mim.
O que muda numa psicanálise? A escrita de final de análise S() é, no grafo do desejo construído por Lacan, precedida por  ◊ D, ou seja, posição do sujeito com relação à demanda do Outro, ou ainda, a vida pulsional do analisando, a posição do sujeito com relação ao gozo. A construção e travessia do fantasma, onde o sujeito se implica com seu gozo masoquista, permite ao sujeito lidar com suas compulsões a partir de seu desejo. Isso é o que muda. O conflito inerente à estrutura se faz presente e o sujeito pontualmente é convocado a realizar escolhas forçadas.
Só a noção de estrutura pode guiar o analista na construção e travessia do fantasma de seus analisandos na sua prática clínica. Estrutura é definida aqui como, evidentemente, estrutura de linguagem, a dimensão simbólica que amarrada ao Real inclui a incompletude lógica (Goedel). O saber nascido da linguagem é um saber não-todo.
O real da estrutura, como isso se articula pela linguagem, isto é, no discurso de um analisando? Lacan emTélévision responde a pergunta sobre o que posso saber numa psicanálise, reformulando: "Que posso saber? Resposta: nada que não tenha a estrutura da linguagem, em todo caso, donde se conclui que até onde eu irei dentro desse limite é uma questão de lógica ;topologia] (...) a questão agora é do que que fará aparecer o real-da-estrutura: do que que da língua não faz cifra mas sim signo a decifrar; (...) o que que daí pode se dizer sobre o saber que exsiste para nós no inconsciente, mas que um único discurso articula; o que que se pode dizer para que o real nos venha por este discurso? Assim se traduz a sua questão para o meu contexto. É preciso no entanto ousar colocá-la como tal para avançar" (LACAN, 2001, p.531-532).
Lacan reformula a questão e responde colocando as estruturas clínicas em primeiro plano. Vejamos. "(...) O que se formula a partir da experiência instituída pelo discurso psicanalítico e que aí se verifica e é ensinável a todo mundo:
1. Se O homem quer A mulher, ele não consegue senão ao soçobrar no campo da perversão
2. Uma mulher não encontra O homem a não ser na psicose" (LACAN, 2001, p.532 – tradução livre).
Neurose, psicose e perversão são definidas em função da não-relação sexual. A conjunção homem-mulher se realizando somente de forma fantasmática, é o abalo neste fantasma que gera a plasticidade da estrutura e o movimento em uma psicanálise.
A plasticidade de estrutura pode ser compreendida como repetidas crises subjetivas (etiologia traumática para Freud) e suas conseqüências que o sujeito atravessa para – a cada repetição – incluir a falta-a-ser na sua vida.
A plasticidade da estrutura, aquilo que pode vir a mudar numa psicanálise, surge a partir de encontros faltosos com o Real () que abalam o sistema fantasmático de crenças e valores estabilizados até então. Através de seus fantasmas, o sujeito tem a ilusão de saber se orientar na vida. O encontro faltoso com o real abala o fantasma e o saber do sujeito se torna lacunar, fragmentário e desestabilizado. A partir daí a estrutura ganha mobilidade (plasticidade) da seguinte maneira: susto (Schreck), depois angústia difusa onde se inicia a compulsão à repetição (Angst) e defesa contra o susto, e depois de um certo tempo lógico e cronológico, se instala o medo (Furcht) como defesa contra a angústia, ou seja, o sintoma fóbico. A fobia como sintoma sem fantasma é essa encruzilhada entre estabilização e desestabilização de onde os sintomas histéricos e obsessivos, estes sim, sintomas com fantasmas, estabilizam o saber inconsciente novamente. Ainda há o fantasma masoquista, muitas vezes chamado de neurose de caráter.


Esta noção de estrutura em que há estabilização e desestabilização do saber inconsciente é que pode guiar o psicanalista para avaliar a evolução do processo de cura em psicanálise. Não há progresso, nada muda, só se repete em ciclo fechado.
Só a noção de estrutura clínica permite entender por que Lacan diz que "não há progresso" na humanidade; que geração após geração, os mesmos problemas e questões se repetem de forma semelhante. Aqui a estrutura se mostra não em sua plasticidade, mas sim no que ela fornece um limite.
A mudança de posição com relação ao gozo que advém da construção e travessia do fantasma, ou ainda o corte em oito interior no cross-cap que permite a queda do objeto a condensador de gozo, permite que este surja como causa de desejo. Diz Lacan em L’Étourdit"portanto é enquanto dura seu luto do objeto a ao qual enfim se reduziu, que o psicanalista insiste em causar seu desejo." A falta estrutural, , é fonte de angústia. Cada psicanálise deverá fazer da fonte de angústia causa de desejo. Enquanto o analisando não comprovar que o que lhe provoca angústia é também o que pode causar um desejo, ele não largará da suas certezas fantasmáticas, fato que faz com que as análises sejam longas.
Com isso, , a falta estrutural, se escreve como S(), ou seja, dela o sujeito faz obra em sua vida. Não há relação sexual. E isso faz o sujeito "feliz" ao invés de causar angústia.
Podem-se localizar os pontos de junção e disjunção de desejo e gozo. O sujeito diante da falta estrutural pode ainda se orientar, não mais somente por seu fantasma onde suas fixações o obrigavam a agir sem pensar, compulsivamente. Ele não será mais "dupe" de seu fantasma. Saberá que o desejo não puro mas infiltrado de gozo só é realizado no fantasma e portanto fadado à decepção. O luto que resulta da decepção permite o relançar do desejo, se deixando afetar por coisas que o causam, possibilitando uma satisfação parcial porém real da pulsão.Ein neuen Subjekt, sujeito que através da satisfação parcial porém real da pulsão completa um circuito no Outro em que ele se sabe acéfalo. O retorno sobre si mesmo como destino da pulsão leva a um neuen Subjekt que pode enfim perguntar se ele quer o que deseja.
A psicanálise não é moral e sim ética, moral num sentido amplo. Diante da falta, o sujeito pode seguir a cabeça do Outro como pode seguir a sua cabeça sabendo que nem um nem outro é a opção ideal. O que a psicanálise coloca à disposição do sujeito é esse conflito fundamental onde o sujeito é convocado a realizar escolhas forçadas a todo momento, fazendo passe aos impasses inerentes ao conflito, comprovando o que Freud já dizia em 1895: que o desamparo é a fonte de todos os motivos morais.

Bibliografia
Arnoux, D. Récreations topologiques. Revue du Littoral, Paris, n.13, p.149-156.
Freud, S. (1937). Análise terminável e não-terminável. ESB. Rio de Janeiro: Imago, 1969, v.23, p.241-287.
Freud, S. (1895). Projeto para uma psicologia científica. ESB. Rio de Janeiro: Imago, 1969, v.1, p.401-529
Freud, S. (1920). Além do princípio do prazer. ESB. Rio de Janeiro: Imago, 1969, v.18, p.17-85.
Freud, S. (1925). Responsabilidade moral pelo conteúdo dos sonhos. ESB. Rio de Janeiro: Imago, 1969, v.19, p.163-167.
Lacan, J. Télévision. Autres écrits. Paris: Éditions du Seuil, 2001, p.509-546.
Lacan, J. L´Étourdit. Autres écrits. Paris: Éditions du Seuil, 2001, p.449-496.
Lacan, J. O seminário: livre 7: a ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1989.
Lacan, J. Le séminaire: livre 11. Les quatre concepts fondamentaux de la psychanalyse. Paris: Éditions du Seuil, 1973.
Kruel, S. Uma Verdade como Ficção. In: Decat, M. (org.). Psicanálise e hospital – a criança e sua dor. Rio de Janeiro: Revinter, 1999, p.47-55.
Portugal, A. M. Comentário sobre Análise Terminável e Não-Terminável. Inédito.


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E-mail: olakruel@terra.com.br
Recebido em 15/06/2007
Aprovado em 27/06/2007



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COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO

ALMEIDA,  Bruno Henrique Prates. Pulsão de Morte: Convergências e Divergências entre
Sigmund Freud e Wilhelm Reich. Curitiba: Centro Reichiano, 2007. Disponível em:
www.centroreichiano.com.br/artigos.htm.
Acesso em: _____/_____/_____.
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PULSÃO DE MORTE: 
CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS ENTRE SIGMUND FREUD E WILHELM REICH
1
Bruno Henrique Prates de Almeida

Dedico este pouco de conhecimento
 a todas as pessoas que acreditam
 que a vida não é,  por natureza,
 um sofrimento. 


Introdução
Enfocamos na parte inicial deste trabalho, alguns fundamentos da teoria psicanalítica, 
objetivando demonstrar o caminho trilhado por Freud até a apresentação de sua hipótese da 
pulsão de morte. Para tanto, faz-se necessária a abordagem e explicitação, mesmo que 
sucinta, de alguns termos psicanalíticos como “pulsão”, “princípio do prazer” e  “princípio da 
realidade”.
Num segundo momento, estaremos expondo os questionamentos e investigações 
realizadas por Wilhelm Reich a respeito da existência inata da pulsão de morte. Porém, 
mesmo sendo também psicanalista, aluno e seguidor de Freud, foi “expulso” da IPA 
(International Psychoanalytic Association) em 1934, por questões ideológicas (sóciopolíticas), continuando seus estudos a partir da psicanálise. É importante ressaltar que 
ocorreu uma ruptura entre Reich e a instituição, mas de certa forma, isso não resultou na 
ruptura total com a teoria psicanalítica.
A Pulsão
O termo “pulsão” permeia toda a teoria psicanalítica e, no entanto, em decorrência das 
traduções e de alguns autores, em diversas ocasiões sofreu a perda do seu real sentido. 
Encontramos inúmeras obras (e autores) considerando a “pulsão” como o equivalente ao 
“instinto”; porém no original alemão existem os dois termos,  Instinkt  e Trieb, utilizados na 
obra freudiana cada qual com o seu significado próprio.  Instinkt  indica um comportamento 
animal herdado através da hereditariedade em uma determinada espécie, e que vai variar 
muito pouco (ou nada) de um ser para o outro, tendo ainda, uma finalidade mais ou menos COMO 

REFERENCIAR ESSE ARTIGO
ALMEIDA,  Bruno Henrique Prates. Pulsão de Morte: Convergências e Divergências entre
Sigmund Freud e Wilhelm Reich. Curitiba: Centro Reichiano, 2007. Disponível em:
www.centroreichiano.com.br/artigos.htm.
Acesso em: _____/_____/_____.
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2
definida.  Trieb, de raiz germânica, evoca o sentido de impulsão, enfatizando-se mais a 
pressão irrefreável do que a meta final em si.
Freud introduziu este termo (Trieb) em sua obra em 1905, no clássico “Três ensaios 
sobre a teoria da sexualidade”, de modo que neste, encontram-se as distinções realizadas 
pelo autor entre a fonte, o objeto, a finalidade e a força da pulsão. É válido destacar que 
estes quatro elementos, indicadores das vicissitudes pulsionais, só vieram a se configurar de 
uma maneira mais completa por volta de 1915. 
A pulsão, na concepção freudiana é, portanto, “um conceito situado na fronteira entre 
o mental e o somático,... o representante psíquico dos estímulos que se originam de dentro 
do organismo e alcançam a mente” (Freud, 1915/1976, pág.142). Ela é, por si mesma, 
exigências de trabalho para a vida psíquica, uma carga de excitação que o organismo 
necessita descarregar. Representa então, uma excitação que encontra sua  fonte no próprio 
corpo (zonas erógenas), provinda, a princípio, das necessidades mais primárias de
sobrevivência; a  força diz respeito ao aspecto econômico, quantitativo da energia psíquica. 
Freud denominou a energia das pulsões de  libido; já a finalidade é sempre a descarga da 
excitação e vale lembrar que não se refere somente à questão genital, mas foi no cerne da 
sexualidade humana que Freud veio esboçar a noção de pulsão. Esta descarga visa o 
retorno do organismo a um estado anterior, equilibrado, existente antes do aumento da carga 
excitatória. O objeto é sempre aquele que se torna capaz de proporcionar a satisfação, pelo 
menos como depositário de descarga, sendo que um único objeto poderá servir a várias 
pulsões ao mesmo tempo. Um exemplo disso é a boca, que na fase oral, é local de 
satisfação para necessidades alimentares (amamentação), mas também de pulsões sexuais 
(sucção após o término do leite) e agressivas (mordidas no bico do seio). 
Verificamos na obra freudiana que a teoria das pulsões sempre se manteve em 
dualidade desde o seu início, quando foi concebida a primeira elaboração entre as pulsões 
sexuais e as pulsões do ego ou de autoconservação. Essa teoria inicial das pulsões foi 
modificada posteriormente, vindo a ser e constituir o modelo vigente da teoria pulsional: o 
dualismo entre as pulsões de vida (Eros) e as pulsões de morte (Tanatos). COMO 

REFERENCIAR ESSE ARTIGO
ALMEIDA,  Bruno Henrique Prates. Pulsão de Morte: Convergências e Divergências entre
Sigmund Freud e Wilhelm Reich. Curitiba: Centro Reichiano, 2007. Disponível em:
www.centroreichiano.com.br/artigos.htm.
Acesso em: _____/_____/_____.
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3
A pulsão sexual pode ser descrita como uma pressão interna que, primariamente (nas 
crianças), não se satisfaz genitalmente. Sua satisfação encontra descarga em diversas 
partes do corpo (zonas erógenas), seguindo um complexo desenvolvimento (oral, anal, fálico, 
latência) até atingir as atividades sexuais propriamente ditas que se iniciam naturalmente na 
puberdade. Antes de alcançar este último estágio, elas são consideradas pulsões parciais, 
mais ou menos independentes entre si, que estarão encontrando satisfação em zonas 
isoladas do corpo, seguindo o desenvolvimento psicossexual considerado na psicanálise. É 
importante pontuar que as pulsões sexuais foram tomadas pelas pulsões de vida no segundo 
modelo teórico de Freud e, de certo modo, correspondem a elas com algumas alterações. 
Já as pulsões de autoconservação correspondem às funções corporais necessárias à 
conservação do indivíduo, sendo a fome o seu principal protótipo, por isso, elas têm objetos 
fixos e específicos.
Antes  de discutirmos o segundo dualismo pulsional e, conseqüentemente,
aprofundarmos no tema principal deste artigo, descreveremos, também de certa forma 
resumida, os dois princípios que regem o funcionamento mental.
O Princípio do Prazer
Dentro da perspectiva proposta por Freud acerca deste princípio, podemos frisar que a 
atividade psíquica objetiva o impedimento do desprazer. A meta principal não se encontra 
então, na busca do prazer, mas sim, na evitação ou descarga da tensão, diversas vezes 
sentida como desagradável. Do ponto de vista econômico, a princípio, “o desprazer está 
ligado ao aumento das quantidades de excitação e o prazer à sua redução” (Laplanche e 
Pontalis, 1999, p. 364). 
No artigo intitulado “Além do princípio do prazer” (1920/1976), Freud expõe que “o 
princípio do prazer decorre do princípio de constância” (p. 19), portanto estes dois princípios 
estão particularmente relacionados. O princípio de constância é a tendência do aparelho ou 
sistema psíquico, a manter o nível de excitação o mais baixo possível, ou ao menos, 
constante. Corresponderia ao “princípio da homeostase biológica” (Zimerman, 1999, p. 78), 
termo da medicina que designa uma necessidade biológica de manter um equilíbrio das COMO 

REFERENCIAR ESSE ARTIGO
ALMEIDA,  Bruno Henrique Prates. Pulsão de Morte: Convergências e Divergências entre
Sigmund Freud e Wilhelm Reich. Curitiba: Centro Reichiano, 2007. Disponível em:
www.centroreichiano.com.br/artigos.htm.
Acesso em: _____/_____/_____.
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tensões criadas pelo próprio organismo, até mesmo num nível intracerebral. Mas, conforme 
Laplanche e Pontalis (1999, p. 360), “a idéia de homeostase é a de um equilíbrio dinâmico 
característico do corpo vivo, e de modo nenhum a de uma redução de tensão a um nível 
mínimo” ou zero, que corresponderia à morte do organismo. Esta constância é conseguida 
através da descarga energética ou da evitação daquilo que pode aumentar a quantidade de 
excitação. Porém, percebeu-se a dificuldade em equiparar radicalmente a tensão ao
desprazer e a descarga ao prazer, pelo fato de existirem tensões agradáveis, como por 
exemplo, a tensão sexual.
O princípio do prazer desempenha suas atividades sem se preocupar com as
exigências da realidade externa; quer, na verdade, percorrer os caminhos mais curtos 
possíveis para realizar seus objetivos. É um funcionamento típico do aparelho psíquico 
infantil, onde não se leva em conta nenhum adiamento para o que possa proporcionar
prazer. Isso não significa que na fase adulta (madura) ele seja totalmente abandonado, mas 
sim, que não deve predominar sobre o princípio de realidade.
O Princípio de Realidade
Este princípio vai se instaurando na medida em que a criança vai se adaptando ao 
mundo externo, adquirindo maturidade cognitiva e fisiológica (linguagem, controle dos
esfíncteres, etc.). É uma modificação do princípio do prazer, já que torna as exigências 
psíquicas passíveis de certo adiamento e desvios, com o fito de regulá-las de acordo com a 
realidade. Podemos acrescentar que a energia que antes se encontrava de certa forma, livre, 
móvel e procurava meios rápidos de descarga, com a instalação do princípio de realidade, se 
torna mais controlada e até mesmo vagarosa, ou menos impulsiva, no que diz respeito à sua 
meta final.
Pulsão de Morte X Pulsão de Vida
Estes dois conceitos foram introduzidos por Freud no já citado “Além do Princípio do
Prazer” (1920/1976) e permearam sua obra até o fim; porém, a hipótese referente à pulsão 
de morte não foi inteiramente aceita por muitos de seus seguidores diferentemente do que COMO 

REFERENCIAR ESSE ARTIGO
ALMEIDA,  Bruno Henrique Prates. Pulsão de Morte: Convergências e Divergências entre
Sigmund Freud e Wilhelm Reich. Curitiba: Centro Reichiano, 2007. Disponível em:
www.centroreichiano.com.br/artigos.htm.
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ocorreu com a maioria de seus conceitos. Na época que entrou em voga foi muito
questionada e, ainda hoje, é uma de suas noções que causam maiores controvérsias. 
A questão da pulsão de morte faz parte do segundo dualismo pulsional proposto e 
encontra-se em oposição às pulsões sexuais e do ego (ou de autoconservação) que, a partir 
deste momento, constituem as chamadas pulsões de vida ou Eros. Este último é mais um 
dentre os muitos termos retirados da filosofia, poesia e mitologia, utilizados por Freud para 
designar ou representar algum conceito. Eros é um termo grego que simboliza o amor e o 
deus Amor. Na psicanálise, designa o conjunto das pulsões de vida que têm uma tendência a 
constituir e conservar unidades cada vez maiores, com o objetivo de preservar a existência 
do organismo. Existe aí  uma espécie de princípio de ligação, que deseja unir partes,
formando estruturas maiores e conservá-las. Num nível celular, corresponderia às células 
germinais que, sob condições favoráveis, podem se multiplicar e se “revestirem” de um novo 
corpo (soma). As pulsões de vida visam então, “o estabelecimento e manutenção de formas 
mais diferenciadas e mais organizadas, a constância e mesmo o aumento das diferenças 
de nível energético entre o organismo e o meio” (Laplanche e Pontalis, 1999, p. 415). 
Seguindo esta linha de raciocínio, elas não obedecem à regra geral das pulsões que é a de 
retornar a um estado anterior, ou seja, a um estado menos organizado e simples, seguindo 
um caminho regressivo e retornando ao estado equilibrado de excitações. Esta tendência ao 
retorno, à repetição, foi descrita a partir da chamada compulsão à repetição, observada nas 
brincadeiras infantis, no tratamento analítico e ainda no campo da biologia, afirmando ainda 
mais o caráter instintual desta compulsão: “Certos peixes, por exemplo, empreendem
laboriosas migrações na época da desova, a fim de depositar sua progênie em águas 
específicas, muito afastadas de suas regiões costumeiras” (Freud, 1915/1976, p. 54).       
Freud (1920/1976) nos coloca uma questão intrigante levantando a hipótese de que os 
atributos da vida podem ter sido evocados na matéria inanimada, em determinada ocasião, 
por ação de uma força “cuja natureza não podemos formar concepção” (p. 56). E ainda, que 
pode ter sido através de um processo semelhante, que a consciência foi desenvolvida nesta 
matéria, a partir de agora, animada. Partindo disto, percebe-se que fora criada, portanto, uma 
tensão na substância inanimada. Ela, de alguma forma, tenta neutralizar ou descarregar tal 

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excitação, procurando retornar ao que era antes e criando, assim, “o primeiro instinto: o 
instinto a retornar ao estado inanimado” (p. 56). O autor ainda complementa dizendo que 
numa época dessas, de estruturas tão simples, com certeza a vida era curta, sendo a 
substância criada e morta diversas vezes, até que influências externas pudessem vir a 
modificar este curso de vida breve.
A pulsão de morte propriamente dita, visa à redução completa das tensões, a um 
(re)conduzir o ser vivo para um estado inorgânico, que seria a forma mais primitiva do ser: o 
estado inanimado. Neste ponto, Freud aceita o termo proposto pela psicanalista inglesa 
Bárbara Low, denominado “Princípio de Nirvana” que designa a tendência do aparelho 
psíquico a levar a zero a quantidade de excitação nele presente. “Nirvana” é um conceito 
budista difundido por Schopenhauer no Ocidente e significa “a extinção do desejo humano... 
um estado de quietude e de felicidade perfeita” (Laplanche e Pontalis, 1999, p.363-364). 
Freud (1920/1976) afirma que as formas primitivas de vida não teriam em  si mesmas, 
desejo de mudar, então elas simplesmente permaneceriam repetindo o mesmo curso de 
vida, caso nenhuma exigência externa viesse a modificar esse quadro. Assim, essa natureza 
conservadora determinaria que o objetivo primevo da vida seria o de atingir estados iniciais, 
antigos, já atingidos e não o contrário. Então, se “tudo o que vive, morrer por causas 
internas, logo o objetivo de toda vida é a morte” (p. 56). Então, a função das pulsões de vida 
seria, sob este ponto de vista, o de garantir, ou descobrir caminhos, para que o organismo 
siga sua rota até a meta final da vida sem ser interrompido por causas externas, podendo 
retornar ao estado inorgânico à sua própria maneira: “o que nos resta é o fato de que o 
organismo deseja morrer apenas do seu próprio modo” (p. 57). E Eros é extremamente 
conservador, pois busca resistir às influências externas e urge por preservar a vida mais 
longamente. É interessante notar a incansável insistência de qualquer pulsão, mesmo que 
reprimida, para alcançar a satisfação representativa de alguma experiência primária que foi 
prazerosa.
É muito claro dentro do pensamento freudiano a exigência dualista proposta muitas 
vezes em sua teoria, não só num nível metapsicológico como no caso das pulsões, mas 
também nas psicopatologias e isto parece servir para demonstrar o conflito interno, “as duas 

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faces de uma mesma moeda”. O termo ambivalência (amor X ódio) aparece na obra
freudiana pela primeira vez no artigo “A dinâmica da transferência” (1912), apesar de que a 
idéia já estava  presente anos antes, como no “Pequeno Hans” (1909). Esta ambivalência 
ocorre em todos os relacionamentos humanos, já que as pulsões de vida e de morte, a 
sexualidade e os impulsos destrutivos e agressivos, estariam no sujeito desde sua
concepção. A questão dos pares de opostos (sadismo X masoquismo, vouyerismo X 
exibicionismo, etc), foram colocados por Freud muitos anos antes do último dualismo 
pulsional, mais precisamente em 1905, no clássico anteriormente citado “Três ensaios sobre
a teoria da sexualidade”. Alguns anos depois ele volta a esse assunto com a intenção de 
reformular algo que havia sido exposto naquela época, sendo de extrema importância para 
nosso tema: a questão da existência ou não de um masoquismo primário.
A princípio, Freud não considerava a existência de um masoquismo primário, apenas 
o masoquismo que deriva de um sadismo já existente nas pulsões sexuais. No artigo “Além 
do Princípio de Prazer” (1920/1976), o autor considera a hipótese de que “pode haver um 
masoquismo primário” (p. 75), e, mais tarde, em 1924, no artigo “O problema econômico do 
masoquismo” ele vem a considerar como certa a existência deste. Nesta última obra citada 
ele vem distinguir três formas de masoquismo, ampliando este conceito para além de uma 
perversão sexual e comprovando a existência de sujeitos que encontram satisfação na 
própria doença, no sofrimento e na humilhação. Um desses tipos de masoquismo é chamado 
de “masoquismo moral” e é o que mais se afasta da sexualidade, mas não deixa a condição 
de ser um instinto destrutivo que se voltou contra o próprio ego.
No artigo “O Ego e o Id” (1923), Freud descreve um tipo de paciente que, durante o 
tratamento analítico, externa reações muito peculiares. Perante qualquer elogio ou
apreciação por parte do analista, ou mesmo  frente a melhorias e progressos obtidos na 
análise, como a eliminação de algum sintoma, esses sujeitos têm uma reação atípica: ficam 
piores, ocorrendo uma intensificação de sua doença. Esta dinâmica foi denominada pelo pai 
da psicanálise como “reação terapêutica negativa” (p. 65). Acrescenta ainda que “existe algo 
nessas pessoas contra o seu restabelecimento, e a aproximação deste é temida como se 
fosse um perigo” (p. 65). A questão ‘moral’ é tida como um sentimento de culpa inconsciente, 

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uma necessidade de punição, que dificulta muito o caminho da cura, pois se satisfaz na 
doença e não aceita abandonar a punição do sofrimento. Este sentimento inconsciente de 
culpa encontra-se profundamente reprimido e se baseia “numa tensão existente entre o ego 
e o ideal do ego, sendo expressão de uma condenação do ego pela sua instância crítica” (p. 
67), que age de maneira cruel e irada.
Freud vê -se então convencido da existência de uma tendência nos organismos vivos e 
no ser humano, de retornar ao estado inanimado, inorgânico e livre de tensões. Então, 
segundo a psicanálise freudiana, a espécie humana, dotada de pulsões, de um complexo 
desenvolvimento sexual e ainda de linguagem, que a diferencia dos outros seres vivos (mas 
a torna mais complexa), teria uma inclinação latente e até mesmo biológica, inata, a 
encontrar satisfação na dor e no sofrimento.
A Refutação de Wilhelm Reich
Wilhelm Reich esteve oficialmente vinculado ao movimento psicanalítico entre 1920 e 
1934 e coordenou os famosos “Seminários de Técnica” de Viena  de 1924 a 1930, por onde 
passaram quase todos os analistas da terceira geração. Depois de sua ruptura com a  IPA 
(International Psychoanalytic Association),  continuou suas pesquisas e teorizações a partir 
de todo seu profundo conhecimento dos alicerces da  teoria psicanalítica, porém com
modificações técnicas importantes. “Reich, psicanalista publicamente engajado na luta pró-
comunismo e contra o nazi-fascismo, representava um perigo para a posição de neutralidade 
que o movimento psicanalítico do período procurava manter por diversas razões, entre elas a 
da própria sobrevivência”.(Wagner, 1995, p.8). Um de seus incômodos se referia, por
exemplo, à passividade do analista durante o tratamento e esta entre outras questões o 
levaram a desenvolver sua própria maneira de abordar seus pacientes: a análise do caráter.
Tornou-se um dos teóricos que mais questionou e discordou da hipótese que veio a se 
confirmar como uma importante parte da teoria psicanalítica, cujo tema escolhemos para 
apresentação neste trabalho: a pulsão de morte. Uma de suas principais obras, intitulada 
“Análise do Caráter” (1933), foi publicada e muito bem recebida no meio psicanalítico, sendo 
vista na época por muitos, como o principal tratado de técnica já escrito até então. Neste COMO 

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Sigmund Freud e Wilhelm Reich. Curitiba: Centro Reichiano, 2007. Disponível em:
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livro, consta um capítulo, publicado pela primeira vez em 1932 no  Internationalen Zeitschrift 
für Psychoanalyse. Freud era o editor deste periódico. Assim, deixou claro que “só permitiria 
que o artigo aparecesse na revista se fosse acompanhado de uma nota editorial
esclarecendo que Wilhelm Reich escrevera o artigo contra a teoria da pulsão de morte ‘a 
serviço’ do Partido Comunista”.(Reich, 1933/2001, p. 216).  Esta era uma posição claramente 
absurda já que os argumentos clínicos de Reich eram bem fundamentados na prática  e 
tentou-se desacreditar sua teoria do masoquismo, “atribuindo-a a motivos políticos e
emocionais”. (p. 216). Este artigo publicado representou a primeira ruptura teórica entre 
Reich e a teoria freudiana, pois foi justamente neste que, pela primeira vez, a existência 
primária da pulsão de morte foi contestada de maneira direta. 
Um dos questionamentos feitos foi sobre o fato de que não havia nenhuma prova 
convincente de uma pulsão biologicamente determinada que poderia tendenciar o organismo 
para a autodestruição, ou seja, não havia “uma imutável vontade biológica de sofrer”.(p.216). 
Em se considerando a visão reichiana, a pulsão de morte é algo secundário, adquirido, e não 
primário e intrínseco ao ser humano. Reich procurava denunciar a sociologia do sofrimento 
humano, ou seja, o fato de que havia muitas condições sociais que causavam as neuroses e 
que estas não tinham sua etiologia numa vontade biológica de sofrer.
Segundo ele, era bastante claro e perceptível, principalmente dentro das clínicas, que 
“em tudo quanto fazia, o homem demonstrava a sua tendência em direção ao autoaniquilamento. O instinto de morte manifesta-se em impulsos masoquistas. Era por causa 
desses impulsos que os pacientes neuróticos ‘se recusavam’ a ser curados”.(Reich,
1927/1995, p. 115). Esses impulsos masoquistas impediam que o paciente se curasse e 
“nutriam o sentimento inconsciente de culpa, que podia também ser chamado de
necessidade de punição. Os pacientes não queriam curar-se muito simplesmente porque os 
impedia essa necessidade de punição, que encontrava satisfação na neurose”. (p. 115).
Até então, a neurose era um conflito entre a pulsão que busca satisfação e o mundo 
externo que frustra este objetivo, provocando inicialmente o  medo da punição. A partir da 
hipotética pulsão de morte muitos analistas passaram a considerar que, na verdade, se dava 
um conflito entre a pulsão e a necessidade de punição. “Estava em desacordo com todas as 

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Sigmund Freud e Wilhelm Reich. Curitiba: Centro Reichiano, 2007. Disponível em:
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observações clínicas. Estas últimas não deixavam dúvida de que a primeira formulação de 
Freud era correta, isto é, as neuroses eram causadas pelo medo à punição da atividade 
sexual e não pelo desejo de ser punido por causa dela”. (Reich, 1927/1995, p. 115). Sendo 
assim, na prática clínica, “a tarefa do analista era, sem dúvida, tratar esses desejos de 
autopunição como uma formação neurótica secundária, eliminar o medo do paciente à 
punição, e liberar-lhe a sexualidade. Não era função do tratamento confirmar essas
tendências de destruição como manifestações de tendências biológicas profundas”. (p. 115). 
Reich se mostrou em desacordo com a hipótese exposta por Freud e não escondeu sua 
insatisfação diante deste fato que, para ele, impossibilitava o trabalho dos analistas: “se há 
um instinto biológico profundamente enraizado de permanecer doente e de sofrer, então a 
terapia nada pode fazer!” (Reich, 1927/1995, p. 135).
Na questão do masoquismo, ele continuou considerando que este é o sadismo, 
voltado contra o ego. Seria o impulso agressivo que, inibido pela frustração e pelo medo, se 
volta contra o sujeito. A agressividade sim, é intrínseca ao ser humano e, a princípio, não 
corresponde necessariamente à destruição ou sadismo. “Agressão é a expressão de vida da 
musculatura e do sistema de movimento (...) é sempre uma tentativa de prover os meios para 
a satisfação de uma necessidade vital. Assim, a agressão não é um instinto, no sentido 
estrito da palavra. Consiste mais no meio indispensável de satisfação de todo impulso 
instintivo”. (Reich, 1927/1995, p. 139). Estes representantes da frustração, a princípio, são 
externos (família, por exemplo), porém são posteriormente internalizados (superego) e se 
tornam o “agente da punição em relação ao ego (consciência). O sentimento de culpa resulta 
do conflito entre o empenho amoroso e o impulso destrutivo” (Reich, 1933, pp.218-219), 
destinados ao mesmo objeto. Portanto, não há para Reich, um masoquismo primário, uma 
satisfação prazerosa buscada na dor por conseqüência de impulsos inatos e biológicos. 
Existe uma consideração reichiana demonstrando de maneira clara como esse impulso 
agressivo inato pode vir a se converter em sadismo: “Se a sexualidade agressiva consiste 
em uma satisfação negada, a necessidade de satisfazê-la a despeito da negação continua a 
se fazer sentir. De fato, surge o impulso de experimentar o prazer desejado a qualquer preço.
A necessidade de agressão começa a suprimir a necessidade de amar. Se o objetivo do COMO 

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prazer é completamente eliminado, i.e., tornado inconscientemente impregnado de angústia, 
então a agressão, que originalmente era apenas um meio, se torna  – em si mesma  – uma 
ação relaxadora da tensão. Torna-se agradável como uma expressão de vida, dando assim 
origem ao sadismo” (Reich, 1927/1995, p. 139).
A famosa “reação terapêutica negativa” foi questionada, pois “permanecia a dúvida de 
como se devia conceber essa ‘vontade de sofrer’: como uma tendência biológica primária ou 
como uma formação secundária do organismo psíquico” (Reich, 1933/2001, p.221). Dentro 
desse mesmo aspecto, ele mostrou-se indignado e denunciou em sua obra “A Função do 
Orgasmo” (1927) o fato de que muitos psicanalistas fizeram uso da hipótese para justificar o 
fracasso terapêutico. Afirmavam alguns, que em certos pacientes, a pulsão de morte era 
mais forte que a pulsão de vida, o que inviabilizava o progresso na análise. (Reich, 
1927/1995). 
Considerações Finais
Complementando o embasamento teórico apresentado, torna-se importante
atentarmos para o contexto histórico do surgimento do conceito de ‘Pulsão de Morte’, pois, 
os acontecimentos externos ao âmbito puramente científico também influenciaram na
construção do conhecimento. 
O artigo elaborado por Freud, onde apresentou (ou admitiu) a existência da Pulsão de 
Morte intitulou-se “Além do Princípio Prazer”, tendo sido escrito em 1920, na cidade de 
Viena, no período que sucedia ao fim da Primeira Guerra Mundial. Se anteriormente a essa 
catástrofe Viena vivia uma época de glória, com uma fértil vida social e cultural da corte 
imperial, o cenário pós-guerra refletia uma realidade aterradora: faltavam alimentos,
combustível e todos os bens estavam em regime de racionamento. E Freud viveu todas 
essas dramáticas conseqüências da guerra. Fatalmente a situação econômica de sua família 
estava comprometida, seu filho demorava a voltar dos campos de batalha e a febre
Espanhola fez milhares de vítimas. Além de todas essas dificuldades, sua esposa adoeceu e 
uma filha morreu deixando dois netos. Como podemos notar, dificilmente alguémCOMO 

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sobreviveria conservando pensamentos otimistas diante de uma situação de calamidade 
total. 
Naquele artigo publicado, Freud deixa bem claro que a linha de pensamento tomaria 
um sentido especulativo, portanto permitindo-se um raciocínio bem mais ousado, seguindo 
caminhos desconhecidos, utilizando-se de hipóteses e idéias, sendo assim guiado mais pelo 
livre pensamento do que pela razão científica. É bem verdade que decorridos alguns anos, a 
dualidade Eros/Tanatos se tornou um conceito e então foi inserida no corpo teórico da
psicanálise. 
O que significaria então, teorizar sobre algo que avança para além do Princípio de 
Prazer, até então o principal fundamento que regiria o funcionamento mental? A introdução 
da Pulsão de Morte passou a apresentar-se como o ‘grande regente’ do aparelho psíquico, 
tendenciando-o a livrar-se das tensões (descarregá-las) e se possível levá-las a zero, mas 
isto corresponderia à morte do organismo, ou seja, a uma suposta volta ao inorgânico. 
Diante dessas investigações surge uma outra questão: qual seria, afinal, o objetivo da 
Pulsão de Morte existente nos organismos vivos? Levá-los à morte propriamente dita? É 
como se o organismo desejasse morrer naturalmente, através de causas internas
(pulsionais?), sem que um suposto ciclo natural de vida (pré-estabelecido? por quem? pelo 
quê?) pudesse ser interrompido. Confuso poder-se imaginar que as ditas Pulsões de Vida 
lutam para que o indivíduo permaneça vivo objetivando morrer do seu próprio modo... Neste 
sentido, Eros seria conservador no sentido de procurar meios de manter a vida, mas se 
questionarmos mais profundamente, não seria só a Pulsão de  Vida, já que Tanatos sempre 
tende a impulsionar o organismo vivo a retornar ao inorgânico, denotando também uma 
característica conservadora. Torna-se complicado pensar na possibilidade de que a vida 
humana possa ter sido evocada do inorgânico, mediante a ação de forças externas, como se 
o surgimento das formas mais complexas de vida não viesse da própria evolução, dos 
processos já existentes como matéria animada. Assim, a vida e a morte representam início e 
fim, respectivamente, ou fazem parte de um todo cíclico sem início e fim (Inorgânico–
Orgânico–Inorgânico)?

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Outra questão evidenciada, revelava o afastamento de Freud das explicações
puramente instintuais/biológicas, preferindo percorrer as bases do que ele intitulava :
“Psicologia Profunda” - se relacionando  mais com um campo mental/psicológico ou
simbólico/representacional. Porém, percebemos que neste trabalho de 1920, ele recorre à 
biologia, com o intuito de comprovar o aspecto instintual das pulsões e por fim nos 
deparamos com o autor admitindo a existência das pulsões agressivas (ou de morte), fato 
que até então havia sido exposto por um de seus discípulos (Alfred Adler), e, no entanto, 
negado por ele próprio.
A questão da agressividade merece uma pontuação. A opinião “antropológica”
freudiana considera os instintos com uma necessidade de serem domesticados,
possibilitando ao Homem alcançar sua capacidade de simbolizar (criar representações). Tal 
questão foi fundamental para sua evolução/adaptação e porque não, sobrevivência. Portanto, 
obrigou-se também a “domesticar” a agressividade, possibilitando que esse caminho
evolutivo pudesse ser trilhado, considerando a sua importância para o processo de
individualização, ou formação do Eu. A visão de Freud em relação à agressividade ressaltava 
que tal instinto  não fazia parte das pulsões de autoconservação, e sim, representava algo 
secundário (indesejável?) e necessitava ser dominada. Já na visão de Reich, a agressividade 
é o movimento em busca daquilo que se deseja, é a força, de dentro para fora, do centro 
para a periferia, que cria os meios para a satisfação, fisiologicamente representada pela ação 
muscular e disponibilidade de energia corporal. Nesse sentido, percebemos claramente que 
a agressividade é, na opinião reichiana, estritamente necessária para a vida e quanto mais 
disponível e bem canalizada, melhor.
O sofrimento humano já foi (e ainda é) tema de incontáveis teóricos, filósofos, poetas 
e artistas e cada qual vai expondo, de sua forma, no seu entendimento, sua explicação e até 
mesmo sua própria dor. Os profissionais atuantes na área de promoção da saúde, buscam 
algum tipo de cura no diagnóstico/tratamento de enfermidades físicas/orgânicas ou
psicológicas/emocionais. Concordamos particularmente que trabalhar na área da saúde e ao 
mesmo tempo acreditar que os seres humanos têm uma disposição inata para o sofrimento e 
satisfação/prazer na doença seria bastante desanimador. Porém, negar o fato de que COMO 

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existem inúmeros indivíduos que, de certa forma, se satisfazem na enfermidade seria
também um equívoco, levando-se em conta as diversas estratégias (conscientes e
inconscientes) que o sujeito consegue manobrar para obter ganhos com a própria doença. 
Compartilhamos da opinião de Reich, nos colocando frente a uma gama de
possibilidades. Analisando essa questão podemos avaliar: se o sujeito sofre e encontra 
prazer, mesmo que inconsciente, isto se constitui num processo adquirido, aprendido e 
condicionado, como se o afeto por ele recebido tivesse vindo numa fusão de amor e dor, 
prazer e sofrimento. Sendo portador de tais condicionamentos, o ser humano, ao dirigir todos 
os seus impulsos amorosos e agressivos para um mesmo objeto, fatalmente se sentirá 
culpado, sendo então levado automaticamente a repetir todas as situações punitivas. Além 
disso, a busca pela satisfação sempre frustrada, pode ainda impulsionar o sujeito a voltar sua 
agressividade contra o próprio ego, constituindo-se em mais uma forma de punir a si mesmo. 
Devemos também acrescentar que a repetição de situações dá ao indivíduo “novas chances” 
de finalizá-la de diferentes formas, o que significa a possibilidade de um êxito salutar.
Sem sombra de dúvida, a contribuição de Freud para a humanidade é transformadora 
e só poderia nascer de um grande pensador da condição humana. Além de suas inúmeras 
outras observações, verificou essa “pressão energética” que brota do interior do organismo 
humano, necessitando de meios para ser descarregada, dando-nos nitidamente a impressão 
de algo que pulsa constantemente. A psicanálise revelou-se para a humanidade, uma das 
formas de se pensar o homem e seu psiquismo, sendo uma teoria científica, um método de 
investigação e uma prática clínica.
Wilhelm Reich desenvolveu sua própria prática clínica a partir da teoria científica 
psicanalítica. Integrou todo o conhecimento básico da psicanálise (Desenvolvimento
Psicossexual Infantil, Transferência, Mecanismos de Defesa, Psicopatologias, etc) no corpo, 
que a partir deste teórico, entrou como parte ativa no processo terapêutico.
      Como podemos perceber, Sigmund Freud e Wilhelm Reich deixaram seus legados 
para que pudéssemos continuar questionando e trabalhando rumo ao crescimento do 
conhecimento. Para trilharmos um caminho para o alívio de nossas dores psíquicas e
corporais que refletem a nossa história onto e filogenética.COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO
ALMEIDA,  Bruno Henrique Prates. Pulsão de Morte: Convergências e Divergências entre
Sigmund Freud e Wilhelm Reich. Curitiba: Centro Reichiano, 2007. Disponível em:
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Referências
Freud, S.  Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade.  Em  Edição Standard das Obras 
Completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro: Imago, 1905/1976, vol. VII pp. 123-237.
Freud, S. Além do Princípio de Prazer. Em  Edição Standard das Obras Completas de
Sigmund Freud Rio de Janeiro: Imago, 1920/1976, vol. XVIII, pp. 13-85.
Freud, S. O Ego e o Id. Em Edição Standard das Obras Completas de Sigmund Freud Rio de 
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Freud, S. O Problema Econômico do Masoquismo. Em  Edição Standard das Obras
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Laplanche e Pontalis (1999). Vocabulário de Psicanálise. São Paulo, Martins Fontes.
Reich, W. A Função do Orgasmo. São Paulo, Editora Brasiliense, 1927/1995.
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Wagner, C. Freud e Reich: Continuidade ou Ruptura? São Paulo: Summus Editorial, 1995.
Zimerman, D.  Fundamentos Psicanalíticos: Teoria, técnica e clínica. Porto Alegre: Artmed, 
1999.
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Bruno Henrique Prates de Almeida é Psicólogo pela Universidade Católica de Goiás e tem
formação básica em Bioenergética.
Cidade: Goiânia/GO
e-mail: bruno@ericom.com.br
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